Significado de Devaneio: 1. Estado de espírito de quem se deixa levar por lembranças, sonhos e imagens; 2. Quimeras, fantasias, ficções.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Meninos

Onde estão Zeca Mulato, Encarnadinho, Culó?
Onde, Ivan o Terrível, Piru Maluco, Antena Antenor
e Lenine e a trinca inteira do Curvelo?
Vivem por aí, resignados? indomáveis?
Desapareceram no imenso anonimato?
Estarão todos dormindo
profundamente?

Não.
De mão dadas com os meninos carvoeiros,
os meninos pobres fascinados pelos balõezinhos de feira livre
e a molecada da Rua do Sabão,
estão todos presentes, estão todos unidos
imutáveis
na ternura do poeta. (Carlos Drummond De Andrade), em Poesia Errante.

Antologia

Felismente existe o álcool na vida.
Uns tomam éter, outros, cocaína.
Eu tomo alegria!
Minha ternura dentuça é dissimulada.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Estou farto do lirismo comedido.
Como deve ser bom gostar de uma feia!
Pura ou degradada até a última baixeza
eu quero a estrela da manhã.
...os corpos se entendem, mas as almas não.
- Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres. (Carlos Drummond De Andrade),
em Poesia Errante.
Cometa bobagens. Não pense demais porque o
pensamento mudou assim que se pensou...
Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio.
Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que
o seu futuro do passado não seja ressentimento...
Não seja séria: a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa.
Quem ri não devolve o ar que respira...
Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta,
não há história prá contar...
Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras...
Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência,
ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam,
para ser os outros em você...
Alterne a respiração com um beijo...
Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto.
Complique o que é muito simples...
Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal.
Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer.
É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade. (Fabrício Carpinejar)

O urubuzeiro

Meu amigo Sebastião estourou a infância dele e mais
duas pernas.
No mergulho contra uma pedra na Cacimba da Saúde.
Quarenta ano mais tarde Sebastião remava uma canoa
no rio Paraguaio.
E deu o barranco de uma charqueada.
Sebastião subiu o barranco se arrastando como um
caranquejo trôpego
Até a casa do patrão e pediu um trabalho.
O patrão olhou para aquele pedaço de pessoa e disse:
Você me serve para urubuzeiro.
(Urubuzeiro era tarefa de espantar os urubus que
atentavam nos tendais de carne).
Trabalho de Sebastião era espantar os urubus.
Sebastião espantava espantava espantava.
Os urubus voltavam de bandos.
Sebastião espantava espantava.
Um dia pegaram Sebastião a prosear em estrangeiro
com os urubus.
Chegou que Sebastião permitiu que os urubus
fizessem farra nas carnes.
Os urubus faziam farra e conversavam em estrangeiro
com Sebastião.
Veio o patrão e mandou Sebastião para o manicômio.
No manicômio ninguém compreendia a língua de
Sebastião.
De forma que Sebastião despencou do seu normal
E foi encontrado na rua falando sozinho em
estrangeiro. (Manoel de Barros)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!! (Federico García Lorca)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011



A saudade hoje trouxe um tom diferente...
Diferente da tarde,
a manhã estava clara e o gosto da saudade ainda era doce.

... Esperei pelo som das cores,
das tuas,
das minhas,
havia apenas um silêncio gritante.

Mas, que agonia essa minha,
esperar pelas tuas cores,
enquanto posso degustar tua ausência doce.

Degustar a falta de alguém que existe,
é melhor e menos triste,
que matar o sentido que insiste.

Sentido que não é silêncio,
Transborda, derrete,
Alucina e, entorpece.

Meu coração,
Invertido...
Gosta de dançar contigo.


Fernanda Mendes.